A actual conjuntura económica de Angola, por demais ligada a uma agressiva e imprevisível manipulação do preço do barril de petróleo, tem o seu quê de parecido com uma luta de elefantes no decorrer da qual quem sofre é o capim.
Por António Setas
A qui não é bem assim, o capim são os países mais pequenos, esses produtores de petróleo que só têm o Ouro Negro para lhes dar de comer, nacos gordos aos seus nababos e migalhas aos esfomeados. Angola não escapou a esta jogada e está a pagar, não se sabe dizer o quê, mas está.
À hora actual, passado o efeito surpresa, o pseudo-governo angolano, encarnado entre os pretos e os amarelos no “Zécutivo”- tanto do ponto de vista simbólico como na realidade-, pôde enfim constatar que os projectos faraónicos do presidente Dos Santos, em curso, ou já realizados desde que a paz foi conquistada ao fórceps em 2002 e em detrimento dos apaniguados do Galo Negro, engendraram dívidas também faraónicas que, com a queda do preço do barril, já não podem ser saldadas.
De repente, perante este golpe petrolífero, apareceu à frente do referido “Zécutivo” e dos seus vassalos, o espectro da bancarrota do projecto de Nação que é Angola e prevaleceu o projecto de salvação do país “Emepeliano”.
Tornou-se urgente procurar soluções que, obrigatoriamente, passam por um enorme esforço de poupança, de diversificação das actividades económicas e também de renunciamento “aos usos e costumes do partido no poder, MPLA, o qual será obrigado a mudar de postura e a pôr de parte a sua tradicional arrogância”, como declarou o dirigente da UNITA, Jardo Muekalia.
Entretanto, na urgência de tomar medidas correctivas em relação ao Orçamento Geral do Estado (OGE) para o ano de 2015, o “Zécutivo” decretou em meados do mês de Janeiro que seria dado um termo ou, pelo menos uma travagem a fundo, à construção de novas estradas, à importação de materiais de construção civil e de bebidas diversas (águas, refrigerantes e bebidas alcoólicas), às transferências de dinheiro para o estrangeiro, à distribuição de divisas para os particulares e aos subsídios do Estado (cerca de 5 mil milhões de dólares por ano), enfim, cancelados seriam também os pagamentos às empresas que trabalhavam em parceria com o Estado angolano, assim como os acessos a novos postos de trabalho nos serviços públicos.
Angola à beira duma crise de nervos!
Não passou quase tempo nenhum e, enquanto os diversos operadores económicos se puseram à espera duma acalmia desta espécie de tsunami económico, como lhe chamou o jornalista Gustavo Costa, tornou-se cada vez mais difícil, com o passar do tempo, obter divisas nos bancos privados.
Nisto, veio de lá a correr o Banco Nacional (BNA), em data do 29 de Janeiro do ano em curso, a autorizar os bancos privados “a importar, exportar e reexportar divisas, assim como cheques de viagem sem a prévia autorização do BNA”. Mas os banqueiros fizeram ouvidos de mercador o que levou o novo ministro das Finanças, José Pedro de Morais, a acusá-los de pôr de lado, às escondidas, importantes montantes de divisas, numa espera de melhores tempos para negociá-las, ou seja, depois da augurada subida de preços.
Ora foi isso mesmo que aconteceu, em menos de duas semanas o mercado paralelo viu-se quase completamente desprovido de moeda o que deu origem a uma fenomenal subida do preço do dólar no mercado informal. Em menos de 15 dias o preço da nota de dólar subiu de 115/120 para 180 kwanzas e em certos sítios chegou mesmo aos 200.
Fácil é imaginar a aflição de toda essa gente que tinha reservado e já pago um bilhete de avião para embarcar rumo ao estrangeiro. Para começar, foram obrigados a comprar as divisas ao preço praticado do mercado negro, dito informal, 180 kwanzas por nota, mas, a certa altura também deixou de haver dólares, por toda a parte, mesmo no mercado negro e… agora, vamos fazer como?…
Ora essa!, como sempre fizeram os plebeus angolanos, recorrer a “esquemas”, meter o estrume da sua lavra no fertilíssimo terreno da corrupção. Sempre foi assim e, diga-se, sempre foi também um dos mais atractivos iscos para atrair investidores estrangeiros, a começar pelos detentores de credenciais topo de gama da Máfia internacional e dos pantanais lamacentos da corrupção planetária.